terça-feira, 15 de maio de 2012

Descalço

ele tirou os sapatos pra entrar em mim. lavou suas mãos pra se entregar. eu cuidei do meu dentro pra o receber. aguei as plantas, tirei pó dos tapetes, troquei as roupas de cama e pintei as paredes. o convidei. ele trouxe lápis de cor e um cd. pintou minhas paredes com suas cores e cantou uma bela canção em francês. de começo era uma visita tímida. mas aos poucos encheu minhas paredes de porta-retratos, organizou as gavetas pra mim, e escreveu lições pelos cantos. até hoje, ele docemente, vem me limpando, descalço, sem sujeira nos pés, me arrancando qualquer poeira ou mofo. sereno, ele já é de casa. pegou a chave e então se trancou por dentro. e depois disso nunca houve sequer um cisto imundo caindo sobre meu chão. ele é dentro de mim. e há de faxinar diariamente com um produto chamado amor verdadeiro.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

flor amarela

eu estava lavando as roupas dele quando de repente as tensões pré menstruais vieram a tona. eu grito. nem entendo. reclamo. sem motivo. ele desvia o olhar da tv e me olha como quem se diz o que diabos você tá falando. mas entende. são os sintomas. eu esfrego. ele sai. eu já me arrependo instantaneamente. ele cansou de me ouvir, saiu. - pensei. vou atras dele. não o vejo. está em cima da árvore de flores amarelas. eu desarrependo. é minha vez de pensar que diabos ele faz lá em cima. mas ele arranca uma flor. dou um sorriso amarelo. rezo mentalmente pra nenhum vizinho abrir a janela. ele pula, me entrega. e a gente ri pra caralho. eu volto pra roupa suja e ele pra tv imunda. a diferença é que agora temos uma flor amarela num copo d'água em cima da mesa.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

a entrega

seu dedo toca meu ombro. viro pra trás. desfaço de todas as minhas crenças. sorrio. sou compensada. ele movimenta seus lábios lentamente. escuto sua voz. a quero pra mim. nos meus ouvidos. contando segredos, revelando medos, se declarando. tudo tão distante. e tão claro. proseamos. o tempo passa. o tempo voa. quero seu dedo no meu ombro de novo. quero suas mãos no meu ombro. quero o mundo mais lindo todo encima dos meus ombros. sem que pese. perfume atras da orelha, um vestido bem vestido, um sorriso no rosto. fui ao seu encontro. sem mais. acontece a entrega.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

aniversário



despertador toca cedo. hoje não é dia para mais cinco minutinhos. um hora depois toco a campainha dele. ele abre com cara de sono. mal abre os olhos. me puxa pra dentro. eu o abraço dizendo feliz aniversário dormindinho. tento te convencer de dormir mais. ainda é muito cedo. você não dorme. atrapalhando minha surpresa. alguém finalmente te liga pra desejar parabéns. saio fingindo estar brincando com a gata. abro a mochila correndo. espalho os 27 corações vermelhos que cortei noite passada pela mesa. tiro os dois presentes da mochila e os ajeito juntamente com as 7 cartinhas que escrevi com lápis de cor. colo o cartaz que preparei, desenhei, escrevi, com dois band-aids pela falta de durex na parede. você parece despedir do telefone. corro voltando pro quarto com sorriso de quem aprontou e você nem percebeu. dormimos. você acorda e diz ir na cozinha. te espeto sentada na cama sorrindo. imaginando seu rosto ao ver a mesa. você então volta com os olhos arreganhados e sorriso de ponta a ponta. se joga em cima de mim me amassando. fiquei feliz que você tenha ficado feliz. feliz aniversário mon amour.


talvez eu consiga explicar. talvez não. ama-lo é minha paz de espírito. está tudo sempre certo. no seu devido lugar. o mundo gira ao meu favor. e eu não temo mais o tempo. eu preciso cuida-lo. eu sinto vontade de cuidar de mim. ele joga a batata palha no pão. e antes de morder pega uma com a mão e põe na boca. olha pra mim. e eu sinto meu coração esquentar. chega a queimar. porque eu sei, eu tenho certeza, que antes dele morder o pão ele vai arrastar meu banco pra perto do dele e me beijar. e então ele arrasta meu banco pra perto do dele e me beija. eu o amo então. de uma forma sutil, verdadeira e despretensiosa.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

estradas

a gente brindou. feliz ano novo, que em 2012 o mundo não acabe já que a gente acabou de começar. nos beijamos. cantamos ao som do violão. dormimos. pegamos estrada . na cidade grande e barulhenta outra vez. tivemos vontade de voltar pro campo. não vizinhos, não trânsito, não pessoas. não pudemos. pegamos estrada pra outra cidade. vimos montanhas verdes e condomínios de pessoas ricas. pegamos uma gata. acariciamos a gata. pegamos a estrada de volta pra cidade barulhenta. a gata miou. miou. miou. tivemos vontade de matar a gata. a gata dormiu no meu colo. deixamos a gata em casa. pegamos as malas. fomos acampar. não vizinhos, não trânsito, não pessoas. nos aconchegamos. nadamos na cachoeira gelada. tomamos banho mais gelado do que a cachoeira. fizemos uma fogueira. nos abraçamos. eu o amei como nunca. entramos na barraca. acendemos a lanterna e iluminamos o nosso porta-retrato. olha só, fomos feitos um para o outro. dormimos. fomos picados por pernilongos. pegamos a estrada pela quinta vez no mês. ninguém dirigiu dessa vez. dormimos a viagem inteira. alguém desligou o ar condicionado do ônibus. sentimos que estávamos voltando pra cidade quente e barulhenta. chegamos em casa. notamos que o cheiro da fogueira que fizemos nos acompanharia por um bom tempo. pegamos outra vez a estrada. novas cachoeiras, novas companhias. deitamos na rede. acordamos no chão da sala. bebemos. rimos. bebemos. estrada outra vez. casa. banho. mala. estrada pela ultima vez. coloquei a mão na perna dele enquanto cruzávamos mais um pedaço do mundo. acabou a estrada. nos despedimos. ele seguiu viagem. aguardo a próxima estrada que me levará até ele. era amor antes de ser.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

meias

eu não tiro as meias. nem você. acho isso legal. penso que somos compatíveis em tudo. nos deitamos e conversamos. você perde a hora de partir. acho isso legal também. mas ainda sim tem que partir. nossa primeira despedida. você levanta. anuncia que é hora de ir. nos abraçamos sem falar nada. depois você me diz que é por pouco tempo e me deseja feliz natal. feliz natal, eu repito. você entra no carro. eu percebo que esqueci meus brincos dentro do carro. deixo-os de propósito pra você se lembrar de mim no meio da viagem. volto pro quarto correndo. abro a primeira gaveta. uma camiseta com seu perfume. está tudo bem. estou a salva.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

bicicleta

a gente acorda, desenha e volta a dormir. hoje não dormimos depois de desenhar. conversamos por horas deitados na cama. perdemos a hora. fizemos almoço e fomos andar de bicicleta. ''pegue sua bicicleta e vamos até o fim da rua.'' discutimos. lembramos da promessa de não discutir. saindo de casa quis pedir desculpas. não consegui. enfrentamos a maior chuva da cidade e eu deitei no seu colo enquanto a fila de carros não se mexia. ele mexeu nos meu cabelos.nos despedimos. enrolei meu dedinho no dedinho dele.''amanhã cedo apareço por lá.'' está feito. amanhã cedo apareço por lá.